segunda-feira, 14 de abril de 2008

MH2O Contra o Crack - Sem tréguas.

Coordenador Nacional do MH2O do Brasil, Rogério Chaves o "Babau" Fala em entrevista sobre o alto consumo de Crack no Estado do Ceará


Maconha está sendo mesclada com crack no Ceará



R.N.F.L., 18 anos, abandonou o vício há três anos, mas ainda hoje carrega sinais de aflição nas mãos (Foto: Kiko Silva)

Rogério Chavez: ´É química. Quanto mais fuma, mais vontade tem de usar´




Atualmente, em virtude das sensações, longe de ser modismo, o uso de crack traduziria a necessidade da sociedade atual por uma droga que cause prazer imediato, suprindo um pouco das frustrações a que estamos submetidos dentro de um mundo globalizado e informatizado, em que o processamento e a troca de informações são muito rápidos, criando níveis desproporcionais de urgência, além de níveis aumentados de estresse. Além disso, o crack está sendo misturado a drogas tradicionalmente ligadas à idéia de ser natural, como a maconha. O mesclado já toma conta de 30% a 40% da maconha circulante no Estado. Estado esse que tem que perceber o uso do crack por cada vez mais jovens como um problema de saúde pública. A adulteração da droga é outra preocupação, podendo abreviar ainda mais o tempo de vida dos usuários, assim como as cinzas ingeridas no consumo. Hoje, o crack é uma droga que chega muito misturada e garantindo retorno imediato ao traficante quando é quebrada em farelos e adicionada a outras substâncias.O crack avança em todas as classes sociais através de drogas antes ditas naturais, como a maconha.


O crack já aparece numa nova versão: adicionado à maconha. É o chamado ´mesclado´ e tem conquistado adeptos. O psicólogo e diretor do Instituto Volta Vida, Osmar Diógenes Parente, denuncia que a maconha pura está sumindo. O que antes era considerada uma droga natural, hoje chega ´batizada´ com 30% a 40% de crack, vinda do Paraguai.Hoje, o crack está presente em todas as classes sociais e chegando cada vez mais cedo. O Programa de Prevenção e Redução de Danos (Nupred) detectou crianças de nove anos usando crack.


Depois de embalar as festinhas em endereços nobres nos anos 80, a cocaína assumiu uma nova forma de apresentação na década de 90: o crack. A mudança foi radical e refletiu no perfil socioeconômico dos consumidores. Ou seja, a cocaína deixou os circuitos vips (mais próximos ao ecstasy) e foi parar nos bairros periféricos dos centros urbanos.Um subproduto da cocaína, o crack é obtido através do tratamento da pasta de coca ou do pó, fumada em cachimbos ou latas e absorvidas pela mucosa pulmonar.

A facilidade de acesso e o preço contribuíram para essa aterrissagem do crack entre os grupos menos favorecidos da sociedade. O preço da pedra varia entre R$ 2,00 a R$ 5,00. E, a grosso modo, o ´custo-benefício´ acaba não compensando.Enquanto o efeito de um papelote de cocaína que custa, em média, R$ 10,00 dura 30 minutos, a euforia assegurada pelo crack é de apenas 5 minutos. O usuário de crack acaba gastando mais para ter o mesmo tempo de euforia. No mínimo, um dependente precisa de cinco pedras/dia, o que representa despesa de R$ 25,00. Uma noitada pode sair até por R$ 400,00, conforme usuário.Marcelo Fialho, psiquiatra e integrante da Coordenação Colegiada da Saúde Mental do Município de Fortaleza, reconhece a gravidade do problema da dependência química, ressaltando que nunca foi encampado pelo Ministério da Saúde.O médico lembra que faltam estatísticas, derrubando alguns mitos como, por exemplo, o número de assaltos envolvendo principalmente jovens aumentou em Fortaleza a partir da entrada do crack. O psiquiatra afirma que o crack aparece nas primeiras posições entre as quatro drogas mais experimentadas. Pela ordem de prevalência: álcool, maconha e psicotrópicos.



SUPERANDO O VÍCIO´Muitos acabam entrando no crime´´Comecei a fumar crack aos 14 anos por influência dos amigos, por curiosidade. Só que a sensação é intensa...e a gente acaba querendo mais, mais...e termina tirando as coisas de dentro de casa para vender. Depois é a vez da casa dos vizinhos´. O relato é do jovem R.N.F.L., 18, há três resolveu dar um basta nesta viagem que para ele teve volta. ´Muitos acabam entrando no crime´, diz. Como a grande maioria dos usuários do crack, R.N.F.L., mora na periferia e não tem como pagar uma clínica para se tratar.´Usava todo dia e, no começo, fazia bicos para conseguir dinheiro. Depois tirava as coisas alheias´, lembra, afirmando que tinha alucinações. A luta para vencer a ´fissura´ não é fácil. As mãos do jovem não param e até parece que ainda persegue o ritmo frenético do crack.´A gente dorme pouco e não tem apetite. A gente fuma e, no outro dia, o organismo pede sempre mais, mais e mais.´ Com o passar do tempo, a pessoa não tem mais ânimo. O jovem fumava entre três a cinco pedras por dia e dentro de três meses estava rendido. ´Deixei de estudar e resolvi procurar ajuda´.O jovem afirma que é preciso muita força de vontade e ajuda dos familiares, afirmando ter encontrado este apoio no Hip-Hop. ´Às vezes é difícil porque a vontade parece mais forte do que você... aí, a gente chupa um bombom e, assim, os dias vão passando. É difícil sair da química´.Lamenta que muitos jovens estejam se iludindo com o crack. ´Graças a Deus não cheguei a ser preso´, ressalta, afirmando que muitos entram e encaram a droga como uma diversão. ´Querem prazer e existe uma sensação mais forte do que o sexo e dura no máximo 15 minutos´.O jovem é incisivo: ´Não existe modismo com o crack. Você fuma o primeiro, o segundo, o terceiro...e não pára mais. É mais forte do que a cocaína. Além de ser mais barato. O pior mesmo é a dívida com os traficantes... é aí que mora o perigo...a gente se arrisca para comprar´.´O crack está atrapalhando o crescimento da pivetada que começa a fumar com 12 e 13 anos´, revela um outro jovem de 20 anos, que faz parte do Movimento Hip-Hop Organizado (MH2O), do bairro da Serrinha. Indiretamente, o crack termina sendo responsável pela morte de alguns jovens que acabam entrando no crime para sustentar o vício.


Na Serrinha, a situação é muito grave. ´A influência de um e de outro...aí vem o tráfico, o dinheiro fácil...algo chamativo como o tênis, o boné e a camiseta...aí o cara quer fazer do mesmo jeito. Vou é vender´, observa o jovem.



CICLO DE TRÊS ANOS - Droga influencia a auto-estimaO crack é uma droga que tem a cara da sociedade atual. Promete prazer fugaz e influencia na auto-estima dos seus usuários. Os jovens da periferia são as principais presas. Só que aqueles que optam por este caminho terminam mortos ou na prisão.Na verdade, a entrada na droga na comunidade ´é um segredo, porque a gente nunca sabe como entra. Só que tem crack, maconha e cocaína´, comentou o coordenador nacional do MH2O, Rogério Chaves.Agora, querem conhecer o mesclado que é a mistura de crack com a maconha. ´É mais forte e mais caro do que a maconha pura´. O baseado puro custa R$ 1,00 enquanto o mesclado sai por R$ 5,00. ´É química. Quanto mais fuma, mais vontade tem de usar´.Rogério Chaves ensina que no mundo do crime uma geração é contada de três em três anos. ´Dentro de um ano, ou é preso ou é morto´, esclarece, apontando o crack como um dos responsáveis pelo aumento da violência. ´Os jovens se viciam e não têm dinheiro para comprar a droga´.



Iracema Sales - Repórter

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